28 novembro, 2005

Insanidade Mental

Tente arrumar um emprego na iniciativa privada. Pra cada um às vezes são dezenas, centenas de candidatos. Empregos singelos ou categorizados, todos são disputadíssimos. Apresente seu Curriculum Vitae recheado de informações técnicas irreprocháveis (ops!), sólidas, um primor. Acrescente uma vida profissional e pessoal pregressa sem manchas de qualquer espécie. Você está no auge da sua capacitação técnica. E ainda soma larga experiência acumulada ao longo dos bons anos já vividos. Você é comunicativo, inteligente e carismático. Sobram qualidades, até mesmo aquela da humildade aparente acostada à uma perceptível noção de companheirismo e senso de união. Você comunga e congrega idéias. As aglutina. Você consegue extrair dos seus colegas, comandados e até mesmo dos seus superiores o melhor deles mesmos, de forma tão sutil e bem sucedida que nem mesmo eles percebem o quanto e de que forma positiva contribuem para o seu próprio sucesso. Notável! Você é um líder nato. Mas, tal qual você, ao final de um processo longo e desgastante, há mais outros dois ou três que reúnem, que apresentaram, grosso modo, as mesmas qualificações e predicados seus. Você agora vai, com os outros dois ou três seus concorrentes, para os exames de sanidade física (não está tuberculoso, não é um leproso, etc.) e aptidão mental para o cargo específico: vai prestar defectíveis e indecifráveis testes psicológicos;

- (Agora um parêntese) -

No serviço público, para cada cargo de nível médio ou superior, são centenas de candidatos - (às vezes, milhares para cada vaga) -. As provas são especialmente difíceis. Elaboradas não exatamente para aferir conhecimento, mas para confundir, pegar o incauto, desmoralizar o candidato. Sadismo puro dos elaboradores. Foram milhares de horas/aula de caros cursos especializados que você freqüentou. Meses, anos de estudo, de atualizações constantes, de dias e noites de sacrifícios e renúncias sistemáticas ao lazer. Você se entregou totalmente ao propósito de ser vitorioso em uma carreira do serviço público. Você é honrado e perseverante. Aí, você passa com louvor em todas as provas, escritas e orais, de múltipla escolha e dissertativas. Demonstrou, a não mais poder, verdadeiros e indiscutíveis conhecimentos técnicos na sua área. Você está pronto pra assumir seu cargo. Restam agora apenas (considerado tudo o já transposto) dois míseros obstáculos: uma entrevista pessoal com um eminente funcionário público de nível superior da área, entrevista essa de caráter subjetivo que é uma avaliação “pessoal”, uma auscultação sensorial quanto a sua postura como candidato ao cargo e função, algo totalmente sem nenhum critério científico, mas expressamente previsto no edital como elemento imaterial mas, da mesma forma que os demais, um elemento apurador determinante e excludente.

E também, e finalmente, os exames de sanidade física e de aptidão mental para o cargo específico que você bravamente postula. Mas atente: você também não é o único que chegou aqui. Há mais dois ou três concorrentes seus, digamos assim, nas suas mesmas condições para uma única vaga. Mas já houve um progresso enorme. Sem exagero, eram mais de dez mil concorrentes antes. Consideremos que, hipoteticamente, tal qual no caso da concorrência para uma vaga na iniciativa privada, aqui, no caso da disputa por um cargo público, não há deslealdade nem politicagem. O critério para a admissão é apenas o de mérito.

DESATE: Dentre os candidatos constatou-se, depois de exaustivos e repetidos exames, que um entre eles, em cada área, apesar de possuir nível de inteligência, escolaridade, cultura, preparo e experiência excepcionais, era também detentor de desvios mentais psicológicos. Era um psicopata! Curiosamente era também detentor de extraordinário carisma (de longe, o mais carismático de todos os seus demais concorrentes) e aquele que, aparentemente, havia se apresentado como o mais capacitado para exercer, com incrível habilidade e aptidão, o poder de convencimento junto a terceiros mais - ou menos - avisados, quanto as suas próprias idéias e projetos, independentemente do valor específico delas.

Somente um exame absolutamente acurado conseguira detectar, em cada um, tal anomalia psicológica submersa em suas próprias personalidades. Não fosse isso, teriam sido os escolhidos. Um seria diretor de RH de uma empresa com milhares de empregados. O outro, imediatamente um Juiz; depois de algum tempo um Juiz de uma Corte Superior de Justiça, passado mais um tempo, um ministro de um Tribunal de Justiça Federal... Um com o poder sobre a admissão e demissão de centenas de pessoas, suas vidas, suas economias, suas realizações e das suas famílias. O outro com um tremendo poder sobre os bens e a liberdade das pessoas adstritas à sua competência e jurisdição. Ambos, como autoridades, um verdadeiro desastre! (Entretanto aqui, tanto na órbita da iniciativa privada como quanto na esfera do serviço público, foram desenvolvidos, no geral e ao longo do tempo, mecanismos de defesa e de razoável eficiência gerencial na contratação de pessoal.) Mas...

QUESTÃO: E-quanto-aos-nossos-dirigentes, aqueles que nós, ingênuamente seduzidos por falsas promessas, elegemos como nossos “lídimos” designados, quer para nos representar como legisladores (vereadores, deputados, senadores), quer como executivos (prefeitos, governadores, presidentes da república)!... Quais são os mecanismos de defesa os quais o cidadão dispõe a seu favor, para a “eleição” (leia-se: contratação) de políticos para o serviço público no geral? Quais? Existe algum?

IDÉIA >>>>> Que tal a possibilidade de existir uma Lei que exija com que cada um, candidato, seja submetido previamente a uma bateria de exames psicológicos, digamos com três juntas de renomados e insuspeitos especialistas desta área médica, só após o quê se tornariam aptos à postulação de cargo público eletivo... Não é uma idéia no mínimo razoável? Para qualquer emprego – ou cargo- não se exige isso? Além, claro, dos conhecimentos técnicos...

A>>> H I S T Ó R I A: Lenine, Hitler, Mussolini, Stalin, Franco, Mao-Tsé-tung, Trujillo, Pinochet, Saddam Hussein, Idi Amim, Fidel, Bocassa, Nicolae Ceausescu, Napoleão, Slobodan Milosevic, Khomeini, Pol Pot, milhares... Tantos incontáveis líderes, religiosos ultra-radicais, envolventes, carismáticos, (cita-se aqui uma ínfima parcela, tão somente dentre os mortos ou os a caminho)-, tanto na história mais recente como quanto ao longo de toda ela, não levaram eles o ser humano, seus liderados ou não, ao desespero e ao caos? Não arrastaram nações ao obscurantismo, à guerra insana, ao genocídio? Estima-se em 200 m i l h õ e s o número de pessoas eliminadas em guerras e campos de concentração no século XX; famílias inteiras foram sacrificadas, tudo em decorrência de psicopatas carismáticos que assumiram o poder! Muitas vezes consagrados até mesmo através de eleições “livres”, pelo voto direto de seus iludidos concidadãos. Muitos com total apoio e mesmo afeto de seus respectivos povos! E depois julgados e condenados por Tribunais Internacionais pelo cometimento de crimes contra a Humanidade... Heim? Não tivemos (verbo conjugado no passado e também no tempo presente) -, por aqui, por estas terras, deputados, senadores, governadores de Estado, presidentes da República alcoólatras, fanfarrões, déspotas, ladrões, assassinos, enganadores?... Todos líderes carismáticos! E psicopatas! E isso não foi (é) “aos montes?...” Alguma dúvida?

A>>> S U G E S T Ã O: Que algum deputado ou senador, homem de boa-vontade, produza e encaminhe em caráter de urgência-urgentíssima, projeto de lei complementar, melhor dizendo, emenda constitucional auto-regulamentada, com a titularidade de “cláusula pétrea”, instituindo a obrigatoriedade da feitura de exames de sanidade mental através de competentes juntas médicas, para todo aquele postulante a cargo público eletivo nos seus diversos graus, independentemente de partido político e cargo almejado, sendo tal exame repetido ao início de cada ano de cumprimento do mandato, para o qual o candidato tiver sido eleito. E que haja a perda imediata e automática desse mesmo mandato, caso não se configure a perfeita sanidade mental do ocupante da função pública. Tudo isso feito por 3(três) juntas médicas independentes e autônomas do serviço público federal, responsabilizando-se seus integrantes, civil e criminalmente, pela integridade e justeza dos seus respectivos laudos técnicos apresentados à Nação.

E que tal Norma Constitucional passe a vigorar na data de sua publicação pelo Diário Oficial da União, o que eqüivale a dizer, imediatamente, inclusive, naquilo que couber, para todos aqueles que estejam no exercício do cargo público para o qual foram eleitos.

E ponto final.

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Post Scriptum: 1. Quanta ilusão de que tal projeto de lei seria votado. 2. Partindo do absurdo que houvesse algum parlamentar com coragem suficiente para bancar este projeto, a Nação inteira iria aplaudi-lo mas... 3. As chances de aprovação seriam nulas. Os parlamentares podem ter todos os defeitos conhecidos mas o cometimento de suicídio político não é um deles. Esse é risco que não corremos.