04 julho, 2005

I M O R T A I S

Acordei agora mesmo, pedindo socorro. Estava febril. Imagino que nos limites. Há muito não sentia isso. Reuni todas as minhas forças restantes para me levantar e procurar algum remédio em meus guardados. Estava, como tenho estado, só. Nada de mais pois de há muito me acostumei a isso. Entretanto, nesse estado de torpor, de insegurança e de mente conturbada, quer pela febre alta, quer por outros sintomas de devaneio daí decorrentes –ou não -, senti-me levado a conjeturar sobre minha vida.

Ultimamente tenho acordado todos os dias muito cedo. E invariavelmente agradeço ao meu Deus do Universo, simplesmente por acordar. Isso não se deu agorinha mesmo. O frio absolutamente intenso, a dor, a momentânea incapacidade de reagir imediatamente decorrente da febre alta, só me fez ser pedinte, qual criança, de um pouco de alento. A súplica foi dirigida ao meu pai. E então, vendo meu organismo reagindo positivamente ao medicamento, me deu uma vontade irresistível de escrever algo sobre minha (nossa) origem. Num átimo tinha delineado uma tese incrivelmente corriqueira e banal.

Somos imortais!

Uma vez que tenhamos plantado alguma semente nossa em um ser passível de acolhimento e germinação, de preferência mais de uma, e tal tendo se dado, passamos a ser imortais. Gerações vindouras nos imortalizarão.

Pode ser – e possivelmente isso ocorrerá -, que seremos esquecidos nesse processo, como um dos seus elos seqüenciais fundamentais. Mas o gene estará lá. Vivo. Operante. Por outro lado, vezes há que temos atitudes meio que presunçosas.

Nos últimos anos adquiri , um a um, sabres, espadins, adagas, e, como direi, belos punhais e armas brancas de origem medieval e orientais, de aço cortante e belas empunhaduras e capas ornamentais, de vários tamanhos e formas. E num total de dez. Em todas elas mandei inscrever, no aço, a seguinte inscrição: “ Gilberto, filho de Neme Munaier, pai de Christian e Guilherme”. É uma inscrição indelével. Minha idéia é que cinco passarão para o meu primogênito e as outras cinco peças serão encaminhadas ao meu outro filho, que não vejo de há muito. Eles mesmos, seguindo minhas instruções, deverão no mesmo aço de cada uma das peças de sua propriedade, mandar inscrever, quando for o caso: “ ........................., filho de Christian” e, nas outras, “ .........................., filho de Guilherme”, e aí sucessivamente!

Há espaço nas lâminas para a inscrição de muitas gerações dos germinados por Neme Abras Munaier, meu pai. Ele se foi quando eu tinha apenas 2 anos e meio. E ele parcos 58. Sei, por notícias contadas na família, em versos e prosa, que como filho extemporâneo, onze anos passados do último, teria sido eu seu derradeiro motivo de felicidade.

Eu o reverencio continuamente até hoje. Eu o imortalizei! Meus filhos me imortalizarão. E seremos lembrados como seres que habitaram este planeta Terra em determinada época, seres que sofreram, que foram felizes, que contribuíram, que somaram, plantaram, que frutificaram suas sementes e que, sem dúvida, fizeram com que elas resultassem em boas e imortais cepas ...