27 fevereiro, 2006

SEMENTE PLANTADA NO LODO

As mais belas flores, as orquídeas selvagens mais lindas e raras foram e são encontradas indiscriminadamente junto com as ervas daninhas em terreno úmido, lodoso.
Mistura da beleza inata com a mais difícil das realidades, vence a beleza. Total incongruência com resultado previsível.
A beleza reage positivamente à dificuldade grave. Resulta em uma beleza maior ainda.
Sem nem bem saber disso, plantei uma que imaginei presunçosamente ser uma semente especial e daí que resultou em um filho verdadeiramente especial. Ninguém podia se aproximar dele, quando bebê, sem estar devidamente higienizado e preparado pra um contato físico sem oferecer riscos (pra ele) de indesejados contágios...
Vive hoje essa minha semente germinada, certamente um tanto que sofrida pela reminiscência ... (da origem pespotática)-, altivo e confiante, de uma forma bem auto-suficiente. Resultado ele de uma mistura de pespotativismo e ultrativismo, venceu este último.
A vitória não é minha. É a vitória da beleza. Aquela da qual bem falou Soltsjenitzin, A. Iatzeievich - ( "A" de Alexander, Iatzeievich (quer dizer: filho de ... -o patronímico-) no seu discurso de agradecimento pelo Nobel de Literatura de 1.970, ao qual não pode comparecer; era recluso em seu próprio país pelo crime de opinião. Esse seu inusitado discurso foi lido, na cerimônia de entrega dos prêmios em Estocolmo - (ou Helsink, ou Oslo, não me lembro bem), por terceiros em seu nome.
Tive acesso a esse Discurso cerca de cinco anos depois.
Publicado aqui, tal qual os incomparáveis escritos de Soltsjenitzin traduzidos do russo para a língüa francesa e daí para a portuguesa -( com ácidas críticas )-, o livreto ( umas trinta e poucas páginas) caiu em minhas mãos. Meu deleite. E eu o dediquei - aquela beleza de formosura, quase que em forma de "ode" ,- ao meu filho, então com menos de dois anos de idade. Lembro-me de estar cuidando dele, de dia, olhando pra ele deitado, dormindo na cama ao meu lado e eu escrevendo a dedicatória... (história viva!)-. Desafortunadamente anos mais tarde depois fiquei longe do meu rebento. E também desse precioso livreto, com minha dedicatória e assinatura - ( e agora mais perto da minha machucada e dolorida memória) . Brincando de poeta, passado tanto tempo, estou à procura da antiga leitura... Alguém tem notícia? Recompensa-se!
A Beleza . . . Urge seja resgatado o "Tributo à Beleza" ! De Alexander I. Soltsjenitzin (quem sabe o mesmo livreto não está perdido em um sebo qualquer e, resgatado, não vem ainda acompanhado da minha velha dedicatória?)