30 novembro, 2005

JÂNIO, UM EXEMPLO MISERÁVEL

Jânio Quadros sucedeu Juscelino Kubstchek de Oliveira, como presidente da República do Brasil, depois de uma eleição democrática praticamente sem paralelo até então na vida pública deste nosso país. A sucessão se deu entre políticos de partidos antagônicos (PDS e UDN), mais ou menos como ocorreu na última sucessão( PSDB e PT)-.
Festa em Brasília, recém inaugurada. Transmissão da faixa presidencial com toda a pompa e circunstância. Ainda que eu menino na época, sem transmissão direta pela televisão, então incipiente, imagem em preto e branco e tendo o rádio, os jornais e os cine-documentários como fontes de informação audio-visual, recordo-me da festa cívica que se deu.
Jânio foi eleito tendo uma "vassoura" como símbolo maior da sua campanha, significativa de uma pretensa varredura, limpeza que pretendia promover na "corrupção" que denunciara existir na administração pública federal que iria suceder. Venceu as eleições com larga margem de vantagem sobre seu concorrente.
Jãnio era do interior do país, professor secundário, um homem que astutamente se apresentava como um do povo, simples, mas na verdade sagaz, direto, inteligente, extremamente carismático. Tomou posse como presidente de uma nação que vinha de uma experiência de transformação súbita impressionante: os 50 anos em 5 do Juscelino. De uma sociedade arcaica, ruralista, atrasada, uma economia baseada 70/80% em produtos primários e agrícolas, em uma sociedade se industrializando rapidamente; os seus valores e auto-estima da população em alta (havíamos ganho a 1ª Copa na Suécia em 1958), uma revolução cultural então se dando com a Bossa Nova, Cinema Novo, mesmo Brasília como uma realização importante (a interiorização do processo civilizatório e do progresso, antes adstritos ao litoral) e tudo o mais. Um novo Brasil com uma nova e futurista Capital recém inaugurada, em franco desenvolvimento, instituições funcionando, tudo democraticamente...

Janio durou sete meses. Foram sete meses de fanfarronice, irresponsabilidades e demagogia. Até da proibição de "rinha de galo" se ocupou o presidente Jãnio Quadros. E alegando "forças ocultas", se disse "forçado" a renunciar ao seu cargo de presidente, para o qual havia sido eleito com toda a simpatia e mesmo amor da imensa maioria da população daquela época. O prejuizo decorrente de tal ato seu à Nação foi imenso. Primeiro pelo desencanto que se deu na opinião pública em geral. Depois pelos desdobramentos políticos que se sucederam, que afinal desembocaram na chamada revolução de 1964. Some-se mais 25 anos, praticamente, de regime militar neste país, e etc e tal.
Tudo por causa de uma personalidade encantadora, incrivelmente carismática que mais tarde, por mais inverossímil que possa pareçer, ainda iria vir a ganhar posteriormente uma importante eleição para a prefeitura da maior cidade do país, São Paulo. O seu oponente derrotado à época: Fernando Henrique Cardoso, depois presidente.

E agora um outro dado veramente importante: Jânio, o da "vassoura" para varrer a corrupção, o da renúncia em razão das tais "forças ocultas", aquele que em última análise enganou e ludibriou toda uma nação de crédulos indefesos, aquele que era simples, que não havia herdado fortuna alguma, que nunca trabalhara a não ser como professor secundário e percebera remunerações posteriores como deputado, presidente renunciante e prefeito, quer dizer, nada substancial, além de ter colaborado na elaboração de um dicionário de português, que sequer foi um sucesso editorial mediano, que foi até mesmo medíocre...
Bem, esse homem, ex-presidente e catalizador de tantas esperanças e realizador de tantas frustações e danos a toda uma Nação, homem pobre, (ou remediado, digamos assim), quando teve aberto seu Inventário para contemplar a distribuição dos seus parcos bens, viu-se que deixara uma herança de perto de >>> USS$50,000,000.00 (cinqüenta milhões de dólares) ! ! !

Isso é fato da história recente. Registrado. Documentado. Depois disso ainda elegemos o "Caçador de Marajás" (hahahaha). E por último... quem, quem ? ? ? Lulla ! Brincadeira, né?

Será que nós merecemos tanto !

28 novembro, 2005

Insanidade Mental

Tente arrumar um emprego na iniciativa privada. Pra cada um às vezes são dezenas, centenas de candidatos. Empregos singelos ou categorizados, todos são disputadíssimos. Apresente seu Curriculum Vitae recheado de informações técnicas irreprocháveis (ops!), sólidas, um primor. Acrescente uma vida profissional e pessoal pregressa sem manchas de qualquer espécie. Você está no auge da sua capacitação técnica. E ainda soma larga experiência acumulada ao longo dos bons anos já vividos. Você é comunicativo, inteligente e carismático. Sobram qualidades, até mesmo aquela da humildade aparente acostada à uma perceptível noção de companheirismo e senso de união. Você comunga e congrega idéias. As aglutina. Você consegue extrair dos seus colegas, comandados e até mesmo dos seus superiores o melhor deles mesmos, de forma tão sutil e bem sucedida que nem mesmo eles percebem o quanto e de que forma positiva contribuem para o seu próprio sucesso. Notável! Você é um líder nato. Mas, tal qual você, ao final de um processo longo e desgastante, há mais outros dois ou três que reúnem, que apresentaram, grosso modo, as mesmas qualificações e predicados seus. Você agora vai, com os outros dois ou três seus concorrentes, para os exames de sanidade física (não está tuberculoso, não é um leproso, etc.) e aptidão mental para o cargo específico: vai prestar defectíveis e indecifráveis testes psicológicos;

- (Agora um parêntese) -

No serviço público, para cada cargo de nível médio ou superior, são centenas de candidatos - (às vezes, milhares para cada vaga) -. As provas são especialmente difíceis. Elaboradas não exatamente para aferir conhecimento, mas para confundir, pegar o incauto, desmoralizar o candidato. Sadismo puro dos elaboradores. Foram milhares de horas/aula de caros cursos especializados que você freqüentou. Meses, anos de estudo, de atualizações constantes, de dias e noites de sacrifícios e renúncias sistemáticas ao lazer. Você se entregou totalmente ao propósito de ser vitorioso em uma carreira do serviço público. Você é honrado e perseverante. Aí, você passa com louvor em todas as provas, escritas e orais, de múltipla escolha e dissertativas. Demonstrou, a não mais poder, verdadeiros e indiscutíveis conhecimentos técnicos na sua área. Você está pronto pra assumir seu cargo. Restam agora apenas (considerado tudo o já transposto) dois míseros obstáculos: uma entrevista pessoal com um eminente funcionário público de nível superior da área, entrevista essa de caráter subjetivo que é uma avaliação “pessoal”, uma auscultação sensorial quanto a sua postura como candidato ao cargo e função, algo totalmente sem nenhum critério científico, mas expressamente previsto no edital como elemento imaterial mas, da mesma forma que os demais, um elemento apurador determinante e excludente.

E também, e finalmente, os exames de sanidade física e de aptidão mental para o cargo específico que você bravamente postula. Mas atente: você também não é o único que chegou aqui. Há mais dois ou três concorrentes seus, digamos assim, nas suas mesmas condições para uma única vaga. Mas já houve um progresso enorme. Sem exagero, eram mais de dez mil concorrentes antes. Consideremos que, hipoteticamente, tal qual no caso da concorrência para uma vaga na iniciativa privada, aqui, no caso da disputa por um cargo público, não há deslealdade nem politicagem. O critério para a admissão é apenas o de mérito.

DESATE: Dentre os candidatos constatou-se, depois de exaustivos e repetidos exames, que um entre eles, em cada área, apesar de possuir nível de inteligência, escolaridade, cultura, preparo e experiência excepcionais, era também detentor de desvios mentais psicológicos. Era um psicopata! Curiosamente era também detentor de extraordinário carisma (de longe, o mais carismático de todos os seus demais concorrentes) e aquele que, aparentemente, havia se apresentado como o mais capacitado para exercer, com incrível habilidade e aptidão, o poder de convencimento junto a terceiros mais - ou menos - avisados, quanto as suas próprias idéias e projetos, independentemente do valor específico delas.

Somente um exame absolutamente acurado conseguira detectar, em cada um, tal anomalia psicológica submersa em suas próprias personalidades. Não fosse isso, teriam sido os escolhidos. Um seria diretor de RH de uma empresa com milhares de empregados. O outro, imediatamente um Juiz; depois de algum tempo um Juiz de uma Corte Superior de Justiça, passado mais um tempo, um ministro de um Tribunal de Justiça Federal... Um com o poder sobre a admissão e demissão de centenas de pessoas, suas vidas, suas economias, suas realizações e das suas famílias. O outro com um tremendo poder sobre os bens e a liberdade das pessoas adstritas à sua competência e jurisdição. Ambos, como autoridades, um verdadeiro desastre! (Entretanto aqui, tanto na órbita da iniciativa privada como quanto na esfera do serviço público, foram desenvolvidos, no geral e ao longo do tempo, mecanismos de defesa e de razoável eficiência gerencial na contratação de pessoal.) Mas...

QUESTÃO: E-quanto-aos-nossos-dirigentes, aqueles que nós, ingênuamente seduzidos por falsas promessas, elegemos como nossos “lídimos” designados, quer para nos representar como legisladores (vereadores, deputados, senadores), quer como executivos (prefeitos, governadores, presidentes da república)!... Quais são os mecanismos de defesa os quais o cidadão dispõe a seu favor, para a “eleição” (leia-se: contratação) de políticos para o serviço público no geral? Quais? Existe algum?

IDÉIA >>>>> Que tal a possibilidade de existir uma Lei que exija com que cada um, candidato, seja submetido previamente a uma bateria de exames psicológicos, digamos com três juntas de renomados e insuspeitos especialistas desta área médica, só após o quê se tornariam aptos à postulação de cargo público eletivo... Não é uma idéia no mínimo razoável? Para qualquer emprego – ou cargo- não se exige isso? Além, claro, dos conhecimentos técnicos...

A>>> H I S T Ó R I A: Lenine, Hitler, Mussolini, Stalin, Franco, Mao-Tsé-tung, Trujillo, Pinochet, Saddam Hussein, Idi Amim, Fidel, Bocassa, Nicolae Ceausescu, Napoleão, Slobodan Milosevic, Khomeini, Pol Pot, milhares... Tantos incontáveis líderes, religiosos ultra-radicais, envolventes, carismáticos, (cita-se aqui uma ínfima parcela, tão somente dentre os mortos ou os a caminho)-, tanto na história mais recente como quanto ao longo de toda ela, não levaram eles o ser humano, seus liderados ou não, ao desespero e ao caos? Não arrastaram nações ao obscurantismo, à guerra insana, ao genocídio? Estima-se em 200 m i l h õ e s o número de pessoas eliminadas em guerras e campos de concentração no século XX; famílias inteiras foram sacrificadas, tudo em decorrência de psicopatas carismáticos que assumiram o poder! Muitas vezes consagrados até mesmo através de eleições “livres”, pelo voto direto de seus iludidos concidadãos. Muitos com total apoio e mesmo afeto de seus respectivos povos! E depois julgados e condenados por Tribunais Internacionais pelo cometimento de crimes contra a Humanidade... Heim? Não tivemos (verbo conjugado no passado e também no tempo presente) -, por aqui, por estas terras, deputados, senadores, governadores de Estado, presidentes da República alcoólatras, fanfarrões, déspotas, ladrões, assassinos, enganadores?... Todos líderes carismáticos! E psicopatas! E isso não foi (é) “aos montes?...” Alguma dúvida?

A>>> S U G E S T Ã O: Que algum deputado ou senador, homem de boa-vontade, produza e encaminhe em caráter de urgência-urgentíssima, projeto de lei complementar, melhor dizendo, emenda constitucional auto-regulamentada, com a titularidade de “cláusula pétrea”, instituindo a obrigatoriedade da feitura de exames de sanidade mental através de competentes juntas médicas, para todo aquele postulante a cargo público eletivo nos seus diversos graus, independentemente de partido político e cargo almejado, sendo tal exame repetido ao início de cada ano de cumprimento do mandato, para o qual o candidato tiver sido eleito. E que haja a perda imediata e automática desse mesmo mandato, caso não se configure a perfeita sanidade mental do ocupante da função pública. Tudo isso feito por 3(três) juntas médicas independentes e autônomas do serviço público federal, responsabilizando-se seus integrantes, civil e criminalmente, pela integridade e justeza dos seus respectivos laudos técnicos apresentados à Nação.

E que tal Norma Constitucional passe a vigorar na data de sua publicação pelo Diário Oficial da União, o que eqüivale a dizer, imediatamente, inclusive, naquilo que couber, para todos aqueles que estejam no exercício do cargo público para o qual foram eleitos.

E ponto final.

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Post Scriptum: 1. Quanta ilusão de que tal projeto de lei seria votado. 2. Partindo do absurdo que houvesse algum parlamentar com coragem suficiente para bancar este projeto, a Nação inteira iria aplaudi-lo mas... 3. As chances de aprovação seriam nulas. Os parlamentares podem ter todos os defeitos conhecidos mas o cometimento de suicídio político não é um deles. Esse é risco que não corremos.

16 novembro, 2005

Filhos!

Há um filme, tido como uma comédia de costumes, que se eu o assistir mil vezes, mil vezes eu me emocionarei com certas cenas dele. Uma especialmente, na qual o protagonista, se dirigindo a um Juiz de uma Vara de Família, na audiência que estava ouvindo as partes de um processo de guarda e, ato contínuo, julgando o caso, praticamente suplica a ele, Juiz, que "não o afaste dos seus filhos, porque desde o nascimento deles ele, pai, ficara viciado neles, filhos, e ele, pai, não concebia a idéia de não estar juntos deles, filhos, o tempo todo sem restrições e de passar a ter visitas programadas e monitoradas por assistente social e tudo o mais". O amor entre pai e filhos ali é irrestrito. E é correspondido da mesma forma. Um menino nos seus onze e duas meninas, de dez e seis anos, mais ou menos. A performance dos atores é sensível e tocante.

Já assisti esse filme umas dez vezes e ultimamente tenho evitado revê-lo. Mas, vira e mexe, a tal cena me volta à memória, quase que como um castigo impiedoso. O Juiz, no caso, ainda que sensibilizado ante a súplica, impõe as tais restrições de visita e "tali e coisa". Uma covardia. Ao final do filme, por uma concessão magnânima da ex mulher e não por decisão judicial ele, pai, PAI, passa a ter acesso menos restrito aos seus próprios filhos.

Fui, durante alguns bons (horríveis, na verdade) anos, advogado nas Varas de Família. Vivenciei, como profissional, situações trágicas de pais (e também de mães) massacrados pela indiferença de promotores e/ou decisões judiciais equivocadas e danosas a crianças indefesas.

Pessoalmente sofri isso na pele. Da forma mais intensa possível.

Daí o tal filme ( uma "comédia") me tocar tão diretamente. Só que no meu caso pessoal, não houve a tal "concessão magnânima" . O prejuízo emocional à época foi enorme. Mas ao final vencemos, pai e filhos.

Creio firmemente que o amor sempre vence, mais dia, menos dia. Isso vale pra tudo. Pode acreditar!